Dialogando com a tragédia conservadora estadunidense

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Sobre este texto de Cristina Soreanu Pecequilo, intitulado Tragédias Americanas, publicado na Carta Maior o leitor Gerson Carneiro escreveu o texto a seguir. É um belo convite para as nossas próprias reflexões.

A força que brota na hostilidade

Por: Gerson Carneiro (enviado por e-mail)

11/01/2011

Quando criança morei em uma localidade no sertão da Bahia aonde chovia pouquíssimas vezes  por ano. Havia um fenômeno durante as chuvas que despertavam minha atenção, muito embora sem saber a razão, apenas achava bonito. Tratava-se de uma frágil flor que brotava no solo, ao pé da serra, assim que começava a chover. Surgia no solo um talo, crescento até aproximadamente dez centímetros, e na ponta formava uma flor, que se confundia com o talo. Ao cavocar cerca de cinco a dez centímetros encontrava uma batata de tamanho aproximado de uma cebola média.

Pois bem.  Refletindo sobre os distúrbios apontados no texto “Tragédias Americanas” fui arrebatado à esta lembrança de infância.

É que em um terreno árido, castigado pelo sol durante o ano inteiro, aonde visivelmente em se plantando nada de bom brotaria, de repente, aos primeiros pingos de chuva surgia uma flor tão frágil e tão forte e tão bonita em meio aquele ambiente há pouco tão hostil.

O que quero dizer com isso? É que em que pese as razões e como se dão as tragédias americanas apontadas no texto acima mencionado, há algo de forte, belo e frágil, e raro como a flor do sertão da Bahia, no povo norte americano: a sua força motriz. Infelizmente para a desgraça de outros povos, e agora dele próprio, assim como foi para os índios que lá habitavam quando da conquista da América.

Refiro-me ao potencial de decisão, de execução do que planejado, do povo norte americano. Talvez até exageradamente decididos. Ressalvo importância a esta característica porque sinto falta deste potencial de decisão e execução em nós, juventude brasileira. Nós nascidos da década de setenta para cá. Tenho dúvidas reais se teríamos por exemplo a coragem da Dilma Rousseff e de suas companheiras de sela. Tenho dúvidas reais se teríamos a coragem dos guerrilheiros do Araguaia. A coragem do Carlos Lamarca.

Sinceramente penso que não teríamos. Penso que nossa coragem e nossa indignação se dão apenas na zona de conforto adstrita ao ato de, do interior de nossas residências, comentar nos blogs sujos em momentos livres de nossa ocupação com o ganha pão. Sendo isto o que nos faz vivermos em paz com nossas tragédias. Sem que eu, neste momento, consiga dizer o quanto viver em paz com nossas tragédias seja bom ou ruim. Mas me preocupa pensar em eventual situação em que será exigido de nós o potencial de decisão e execução tratado neste texto, como na situação eventual em que o PIG conseguisse destituir a Dilma Rousseff.

E ainda sinto-me feliz porque existimos, para além da imensa massa da juventude alienada, e conseguimos ao menos fazer o que fazemos. Porém tenho minhas dúvidas, e preocupações.

Agora peço licença para me retirar. Eis que aproxima-se o momento de bater o meu cartão.