Sideney e os adevogados

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Sandra é um nome que acho bonito. Rosa é outro. E Madalena tem quem não goste, mas eu gosto. Agora, junte os três: Sandra Rosa Madalena, como na música de Sidney Magal, que fala de uma cigana com esse nome! Fica no mínimo esquisito. Na semana passada, comentei aqui sobre o nome da princesa britânica Charlotte Elizabeth Diana. Não fica nada a dever a Sandra Rosa Madalena. Esse texto entrou também no facebook da Fórum, que eu não vi porque não uso essa mídia, mas uma irmã me contou que houve um monte de comentários mal-humorados sobre meu texto, embora houvesse alguns concordando com ele. Depois disso, fiquei pensando em nomes de gente que conheci por aí. Um homem me disse que se chamava Sideney. Sidney, pensei, achando que a pronúncia dele é que alterava o nome, coisa típica do interior paulista, em que se costuma incluir um “e” onde não tem, entre duas consoantes. É o caso da palavra advogado, que muitos pronunciam adevogado. Tive em São Paulo um ótimo professor de matemática, mas precisei acostumar o ouvido para não ficar incomodado com a pronúncia dele. Ao ditar um problema, por exemplo, ele dizia: “Para se obeter o valor de um obejeto”. E na chamada um aluno chamado Edgar era chamado de Edegar. Mas voltando ao Sideney, o nome dele era Sideney mesmo, com “e” entre as consoante d e n. Era comum, ao fazer o registro, donos de cartórios não saberem direito como se escrevia um nome e, na dúvida, escreviam de acordo com a pronúncia do pai. Daí acontecia essas coisas. Tive uns parentes distantes, gêmeos, que nasceram logo depois da Segunda Guerra Mundial e os nomes deles foram “vítimas” dessa mesma situação. O pai deles gostava de ouvir notícias da guerra pelo rádio e se maravilhava com os nomes das cidades noticiadas, especialmente Washington e Wellington. Resolveu tascar os nomes dessas cidades nos filhos gêmeos, mas não conseguia pronunciar corretamente essas duas palavras e os filhos ficaram receberam os nomes Osto e Elto. Nessa mesma linha de acontecimentos, quando cheguei em São Paulo, conheci uma japonesinha simpática, só que um nome que achei esquisito, e ela contou: seu pai, recém-chegado do Japão, queria pôr um nome bem brasileiro na primeira filha que nasceu aqui. Gostou de Clara, mas pronunciava Kurara, e o escrivão, pensando que era um nome japonês, escreveu assim. Quem é da minha geração deve se lembrar de um deputado chamado Gastone Righi. Um amigo que o conheceu me disse que o pai dele, italiano de pronúncia carregada, queria pôr no filho o nome de Gastão Henrique, mas o escrivão escreveu de acordo com a pronúncia dele. Bom, seja com esses nomes ou com outros mais “normais”, digamos assim, muita gente não gosta deles e prefere usar apelidos. Conheci, por exemplo, uma Maria do Rosário que não atende por esse nome, só por Helena; uma chamada Linda, mas nem se lembra disso, diz que é Ruth, e uma Maria do Socorro que se tornou Raquel. Repito o que disse há uma semana: com o nome que tenho, não posso falar mal dos outros. Além da combinação de dois nomes meio incompatíveis, também houve um erro do escrivão. Mozart, de acordo com a grafia original, virou Mouzar. Só fiquei sabendo que era escrito assim quando entrei no ginásio e precisei do registro de nascimento. No curso primário não exigiam documento nenhum. Protestei, xinguei o homem do cartório dizendo que tinha que mudar, mas ele insistia que não podia. Custei pra me acostumar com ele. Fora isso, em São Paulo me chamam de Môzar, pronúncia mais ou menos parecida com a do compositor Mozart, e em Minas a pronúncia é Mozar, com a sílaba tônica no “zar”. Esquizofrênico, não é? Mas me acostumei também. Quando me perguntam como pronunciar meu nome, respondo: “Ao gosto do freguês”.