Segundo relatório da PF, Folha combinou entrevista com Marcelo Odebrecht

No polêmico documento revelado por reportagem do Estadão, constam páginas supostamente em branco, cujo conteúdo foi omitido. Elas escondem troca de e-mails entre Odebrecht e seus colaboradores, que conversam sobre entrevista solicitada pela Folha de S. Paulo. Um dos funcionários do empresário diz que ele só deve falar "se o repórter antecipar as perguntas" e que o diálogo "só vale se for pra mandar recado".

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No polêmico documento revelado por reportagem do Estadão, constam páginas supostamente em branco, cujo conteúdo foi omitido. Elas escondem troca de e-mails entre Odebrecht e seus colaboradores, que conversam sobre entrevista solicitada pela Folha de S. Paulo. Um dos funcionários do empresário diz que ele só deve falar "se o repórter antecipar as perguntas" e que o diálogo "só vale se for pra mandar recado" Por Redação Relatório da Polícia Federal divulgado na última terça-feira (21) por reportagem do jornal O Estado de S. Paulo tem mais a revelar do que as relações de Marcelo Odebrecht com políticos de governo e oposição. Após o mistério da "tarja preta" – colocada sobre o nome do senador José Serra (PSDB-SP) –, o site Tijolaço descobriu agora a polêmica da "tarja branca", que esconde troca de e-mails entre o empresário e seus colaboradores sobre uma entrevista solicitada pela Folha de S. Paulo. Em um dos trechos, Sergio Bourroul, diretor de Comunicação da Odebrecht, afirma que Marcelo só deve falar "se o repórter antecipar as perguntas" e que a conversa "só vale se for para mandar recado". O diálogo entre o executivo e sua equipe, ocorrido em agosto de 2014, pode ser encontrado na parcela em branco das páginas 23, 24 e parte da 25 do documento (para baixá-lo, clique aqui). Não se sabe por que essa parte foi ocultada, mas para visualizá-la, basta selecionar os espaços supostamente vagos, copiar e colar em editor de texto ou mesmo em um bloco de notas. Confira abaixo o conteúdo omitido dos leitores:

A anotação registrada sob o número 2110, com data de 28/08/2014, trata da entrevista solicitada a Marcelo pela Folha de São Paulo, na troca de e-mails Marcelo e seus colaboradores, verifica-se a intenção de conceder a entrevista somente se as perguntas forem antecipadas e sem conteúdo polêmico. Inclusive Sergio Bourroul argumenta que só vale a pena a entrevista se for possível mandar recados, não mencionando para quem, nem que tipo de recado seria, inclusive instrui Marcelo a capitalizar a concessão da entrevista, dizendo que “abriu uma exceção em consideração ao pedido da direção do jornal”.

Assunto: Entrevista Folha de São Paulo (Repórter “A” e Repórter “B”), Assistentes: Localização: sala reuniões DP – 15º andar Detalhes: SB na coordenação. Marcelo, a primeira entrevista da série será com Abilio Diniz, a ser publicada neste domingo, dia 24. A sua será a segunda, no dia 31. A reportagem estava aguardando as confirmações de Murilo (Vale), Roberto Setubal (Itaú) e Joesley (JBS). Não sei se emplacou todos. Você receberá dois repórteres (A e B), que virão acompanhados de um fotógrafo. Confirmado às 9h00 de amanhã e eu te acompanharei. Abaixo, repasso os principais pontos que nortearão a conversa: O país deve crescer abaixo de 1% este ano e os anteriores não foram muito melhores. Quais são os principais gargalos que impedem o crescimento? O que é preciso mudar para que os empresários voltem a investir? Na sua opinião, quais deveriam ser as três prioridades do governo logo no primeiro ano? Independente de quem venha a ser eleito, a previsão geral é de um ajuste duro em 2015. Qual é a sua expectativa? Os preços públicos, como gasolina, energia e tarifa de ônibus estão represados. Qual seria a melhor estratégia para ajustar a economia: um tarifaço logo de cara ou aumentos graduais? O Banco Central vem fazendo intervenções no mercado para segurar o real. O sr. acha que seria possível voltar ao câmbio flutuante de fato ou isso teria um impacto muito forte sobre a inflação? O desemprego, que até agora estava controlado, começou a aparecer aqui e ali. O sr. acha que pode haver uma onda de demissões pela frente? A campanha de Dilma se queixa de que o mercado faz terrorismo eleitoral quando aposta contra ela na bolsa e que não é a primeira vez que isso acontece no Brasil. Qual é sua opinião? O mercado faz terrorismo? O Supremo está a um passo de acabar com o financiamento privado de campanhas políticas. Na sua opinião, isso é bom ou ruim? O setor privado vive pedindo ajuda do governo, como benefícios fiscais e recursos do BNDES. Por que os empresários no Brasil dependem tanto do governo? Abs, De: Marcelo Bahia Odebrecht <[email protected]<mailto:[email protected]>> Data: 6 de agosto de 2014 22:19:14 BRT Para: Sergio Bourroul <[email protected]<mailto:[email protected]>> Cc: Daniel Villar <[email protected]<mailto:[email protected]>>, Leonardo Sa de Seixas Maia <[email protected]<mailto:[email protected]>>, Zaccaria Junior <[email protected]<mailto:[email protected]> Assunto: Re: pedido da Folha de S.Paulo Ok From: Sergio Bourroul Sent: Wednesday, August 6, 2014 19:14 To: Marcelo Bahia Odebrecht Cc: Daniel Villar; Leonardo Sa de Seixas Maia; Zaccaria Junior Subject: Re: pedido da Folha de S.Paulo Marcelo, A sugestão de DV é boa. Você fala se o repórter antecipar as perguntas. Vou solicita-las, ok? E capitalizar dizendo que vc abriu uma exceção em consideração ao pedido da direção do jornal. Enviada do meu iPhone Em 06/08/2014, às 19:05, “Marcelo Bahia Odebrecht” <[email protected]<mailto:[email protected]>> escreveu: Se fosse uma entrevista apenas minha (e não uma serie) e como foco geral em nós, eu negaria. Não apenas pelo momento, como porque temos negado para todos. Mas se o foco eh nas prioridades para o País nos próximos anos, e não em nós, e como parte de uma série de poucos empresários, minha tendência seria aceitar. From: Daniel Villar Sent: Wednesday, August 6, 2014 18:58 To: Sergio Bourroul; Marcelo Bahia Odebrecht Cc: Leonardo Sa de Seixas Maia; Zaccaria Junior Subject: RES: pedido da Folha de S.Paulo Marcelo, O que acha da demanda abaixo? Já fui mais reativo no passado recente a uma participação sua, mas pelo contexto descrito pela CDN, e pela provocação de SB, pode haver espaço para mensagens da Organização, desde que enviem previamente as perguntas e que as mesmas não sejam politizadas. De: Sergio Bourroul Enviada em: terça-feira, 5 de agosto de 2014 19:11 Para: Daniel Villar Cc: Leonardo Sa de Seixas Maia; Zaccaria Junior Assunto: RES: pedido da Folha de S.Paulo Daniel, Favor avaliar a solicitação abaixo, da Folha de S. Paulo. Acho que devemos preservar MO, mas é possível que ele queira aproveitar para mandar algum recado. O repórter garante que não haverá questionamentos polêmicos e que envolvam diretamente a Odebrecht (Petrobras, BNDES, contratos, doação para campanha, preferências políticas etc). Quer apenas abrir espaço para a opinião de MO sobre os gargalos do crescimento do Brasil e as prioridades do próximo governo. Só vale se for para mandar recados. Caso contrário, declinamos com tranquilidade. Obrigado, Abs,

De: Zaccaria Junior Enviada em: terça-feira, 5 de agosto de 2014 18:58 Para: Sergio Bourroul Cc: Leonardo Sa de Seixas Maia; Elea Cassettari Almeida Assunto: pedido da Folha de S.Paulo Sérgio, o “repórter A“  da Folha me procurou. Ele informou que o jornal vai aproveitar o período pré-eleitoral para discutir o futuro do país por meio de uma série de entrevistas com os principais empresários brasileiros. Eles devem abordar quais serão os desafios do próximo governo, independente de quem venha a ser eleito, para o país voltar a crescer, recuperar o otimismo, atacar os gargalos que , segundo eles, “impedem o país de deslanchar”. Palavras do “repórter A“ : “A ideia é publicar uma entrevista por semana, como parte de uma série, e preparamos uma lista com os empresários mais respeitados do país. O jornal gostaria muito de contar a seus leitores o que o Marcelo Odebrecht pensa disso. A retomada do crescimento passa por mais investimentos e portanto pelo setor de infraestrutura e a Odebrecht tem tido um papel central nessa área. Nossa ideia é começar a publicar as entrevistas já no início deste mês. Estamos convidando Roberto Setúbal, Luiz Carlos Trabuco, Murilo Ferreira, Abilio Diniz, Pedro Passos, entre outros. Mas é uma lista restrita.” Sérgio, acrescentando, David contou ainda que o secretário de redação (…)passou na mesa dele dia desses para falar das entrevistas e perguntou: “E o Marcelo Odebrecht, que seria a cereja do bolo?”. Mais uma vez, palavras do David: “Queria que vocês soubessem e reafirmar que uma entrevista com ele teria espaço nobre e seria bem tratada”. Abs, Zacca

(Foto: Reprodução/Tijolaço)