FÉ E CHUMBO

Dissidência da Igreja Católica quebra o silêncio sobre o "padre armamentista" da instituição

Igreja Católica Apostólica Brasileira (ICAB), que não segue o Vaticano, se pronuncia sobre o padre bolsonarista Edivaldo Ferreira, que usa a Bíblia para defender armas e prega ódio contra a Lula

Igreja Católica Apostólica Brasileira (ICAB) solta nota sobre o padre armamentista Edivaldo Ferreira.Créditos: Reprodução/Instagram
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A Igreja Católica Apostólica Brasileira (ICAB), uma dissidência da Igreja Católica Romana e que não segue o Vaticano, se pronunciou através de nota oficial divulgada na última terça-feira (22) sobre o padre Edivaldo Ferreira dos Reis, que pertence à instituição e celebra cultos em Joinville (SC). No comunicado, a ICAB diz que seus sacerdotes "têm o direito de opinião em questões particulares", mas ressalta que "não encoraja o uso de arma de fogo" [Leia a íntegra ao final desta matéria]

O religioso, coordenador regional no município catarinense do Pró-Armas, movimento lobista pela liberação das armas, vêm causando polêmica por conta de sua conduta nas redes sociais.

Além de encampar discurso armamentista, Edivaldo Ferreira dos Reis é um bolsonarista ferrenho que utiliza trechos bíblicos para encampar a narrativa em defesa das armas de fogo, sob o pretexto da "legítima defesa", e que incita ódio contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a esquerda de um modo geral e até mesmo contra o Papa Francisco. 

Padre Edivaldo Ferreira, em seu Instagram, ironiza encontro entre Lula e Papa Francisco (Reprodução)

No final de julho, Ferreira se encontrou com Jair Bolsonaro e parte do clã após dar uma palestra, de batina, sobre o tema "o cristão e a legítima defesa" na "Shot Fair", feira armamentista que aconteceu em Santa Catarina. O padre posou com Eduardo Bolsonaro, Jair Renan e deputados que fazem parte da bancada da bala. Aproveitou o momento para fazer oração e idolatrar o ex-presidente.  

Em meio à polêmica gerada por suas pregações de ódio contra Lula e a esquerda concomitantes à defesa das armas, o padre, através das redes sociais, divulgou no dia 9 de agosto uma nota em que  nega ser a favor do "direito de matar", mas que defende a "legítima defesa". E que isso justificaria o armamento da população.

"Venho através desta rede social me manifestar publicamente contra diversas matérias tendenciosas que querem fazer acreditar que eu, enquanto padre seria defensor do direito de matar. O direito a legitima defesa pode ser justificado a partir de uma compreensão adequada dos princípios cristãos, da ética e do contexto bíblico", afirmou em sua página no Instagram.

Diocese de Joinville, da Igreja Católica Romana, fala em "ritos ilícitos"

O comunicado do padre Edivaldo Ferreira dos Reis veio um dia após a Diocese de Joinville (SC) divulgar uma nota afirmando que o sacerdote não faz parte da Igreja Católica Apostólica Romana e que os ritos do bolsonarista seriam "ilícitos" aos católicos. 

"A Diocese de Joinville explica que o padre Edivaldo Ferreira pertence à Igreja Católica Apostólica Brasileira (ICAB). Esta Igreja, apesar de se autodenominar 'católica', não está em comunhão com o Santo Padre, Papa Francisco, e NÃO faz parte da Igreja Católica Apostólica Romana. Sendo assim, o padre Edivaldo Ferreira NÃO faz parte da Diocese de Joinville", diz um trecho da nota. 

"É importante destacar também que todos os ritos e cerimônias religiosas realizadas por esta Igreja são ilícitos para os fiéis católicos. Assim sendo, recomenda-se vivamente aos fiéis que não frequentem os edifícios onde eles se reúnem e nem participem de qualquer celebração promovida por esses grupos. Do mesmo modo, os fiéis católicos devem se atentar às orientações pastorais que são próprias da Igreja Católica Apostólica Romana", prossegue a Diocese. 

O que diz a Igreja Católica Apostólica Brasileira (ICAB) 

Em nota oficial, o presidente da Igreja Católica Apostólica Brasileira (ICAB), Dom José Carlos Ferreira Lucas, afirma que "sacerdotes têm o direito de opinião em questões particulares", mas ressalta que  "tais opiniões não podem ser confundidas com o Pensamento da Igreja já exposto conforme o que determina nosso Estatuto".

"Com isso, ressaltamos nosso compromisso no respeito à individualidade dos ministros, desde que suas condutas/opiniões não sejam divergentes à doutrina e aos ensinamentos em geral da Instituição", destaca o dirigente da igreja. 

Padre Edivaldo Ferreira publica fotos em que aparece armado nas redes sociais (Reprodução/Instagram)

O comunicado prossegue com a afirmação de que "o pressuposto da legitima defesa trata-se de um direito de todos os cidadãos na esfera do direito penal" e que "a Igreja defende as garantias constitucionais, princípio de seu viés democrático, que lhe é característico desde à sua fundação, porém, nunca se contrapondo ao Evangelho de Cristo, base e fundamento de sua existência". 

Ao final, o presidente da ICAB declara que a instituição "não encoraja o uso de armas de fogo ou quaisquer outros tipos de armamentos entre os seus fiéis, pois acredita no que Nosso Senhor Jesus Cristo afirmou nos Santos Evangelhos a favor da não-violência, entre outras passagens"

Confira a íntegra da nota abaixo: