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"Deslize”: Mônica Waldvogel revela arquitetura midiática que usa Hamas como “cortina de fumaça"

O PT não tem relação com o Hamas, se tivesse, talvez, seria com o Fatah, que atualmente é oposição ao Hamas na Palestina.

Mônica Waldvogel.Créditos: Reprodução/GloboNews
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Nesta segunda-feira, 09, a jornalista Mônica Waldvogel, durante o programa “Em Ponto”, da GloboNews, tentou vincular um não-acordo do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, tão comumente conflituoso, a uma suposta aliança do PT ao Hamas. A jornalista declarou que o “governo brasileiro, ao condenar o que aconteceu, procurou não mencionar o nome do grupo Hamas”, que haveria “relações entre partes do Partido dos Trabalhadores com esse grupo” e que, no mesmo sentido, “há, também... o Brasil presidindo o Conselho de Segurança na ONU, ontem, sem nenhum resultado”, pontou Mônica Waldvogel.
 
A ilação foi prontamente rebatida nas redes, no entanto, ela não apenas apresenta a desinformação da jornalista sobre a conjuntura internacional e o próprio Partido dos Trabalhadores, mas manifesta uma narrativa persistente e alinhada da grande mídia, alinhada ao ocidente capitalista, em especial os norte-americanos; o foco no Hamas como uma organização criminosa para legitimar as ações contra a Palestina.
 
Antes de abordamos a questão do Hamas, um breve comentário sobre o conteúdo da ilação feita pela jornalista:
 
O Hamas foi fundado em 1987, no contexto da Primeira Intifada, um movimento popular palestino de resistência à ocupação israelense da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Ironicamente, Israel contribuiu para o fortalecimento do Hamas ao permitir que o grupo operasse em Gaza, que estava sob ocupação israelense até 2005. Também teria fornecido armas e treinamento para o Hamas, na esperança de que o grupo pudesse conter a influência da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que era considerada mais moderada. Mais tarde, no entanto, os ventos mudaram.
 
O PT não tem relação com o Hamas, se tivesse, talvez, seria com o Fatah, que atualmente é oposição ao Hamas na Palestina. O Hamas é mais identificado com uma direita nacionalista, com pautas de costumes, como o conservadorismo social, o autoritarismo e o antissemitismo. Já o Fatah seria mais a centro-esquerda, defende a laicidade do Estado, a igualdade social, o nacionalismo-socialismo árabe, além de defender uma economia socialdemocrata, com um forte papel do Estado na provisão de serviços sociais e uma agenda progressista que incluem a defesa da Democracia e dos Direitos humanos. 

Portanto, não resta dúvidas que o PT, ideologicamente, não se identifica com o Hamas. Sua defesa, porém, é com a causa Palestina, o que demonstra que não se pode trocar alhos por bugalhos. No mesmo sentido, o fato de alguns militantes, de maneira individual, tenham assinado eventualmente nota em defesa do Hamas, enquanto governo, não quer dizer que estes tenham ligações com a organização.
 
O foco no Hamas como uma organização criminosa para legitimar as ações contra a Palestina.
 
O Hamas não é um “grupo terrorista e de apoio à causa palestina”, como quer crer a grande mídia. Ele é, basicamente, o governo. O Hamas teve maioria nas eleições da Palestina e lá governa. Além disso, para as Organização das Nações Unidas (ONU), a Palestina é um Estado! Sim, a Palestina é reconhecida como um Estado, ainda que um Estado observador não-membro, pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, em decisão tomada em 29 de novembro de 2012, com 138 votos a favor e 9 contrários. Atualmente, a Palestina é reconhecida como um Estado por mais de 130 países, incluindo a maioria dos países árabes e europeus.
 
A ofensiva não pode ser considerada iniciativa de “um grupo”, muito menos “um grupo terrorista”. Para a Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), que é a entidade que representa a diáspora palestina no Brasil, constituída por cerca de 60.000 imigrantes, refugiados e seus descendentes, foi uma operação de autodefesa, conforme garantido aos povos em condição de ocupação e colonização pela Resolução 37/43, da ONU, de 1982, tendo respaldo pelo Direito Internacional. Afinal, não podemos ignorar todas as resoluções das Nações Unidas condenando Israel e reconhecendo o direito palestino ao território invadido, até mesmo as resoluções que apontam as violações dos direitos humanos como genocídio étnico e apartheid praticada por Israel contra este povo.
 
Por isso o debate tem sido abafado por estes setores; num contexto honesto, a Palestina é a vítima!
 
A Palestina é composta por duas regiões: a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, que são ocupadas por Israel desde 1967. Em 2012, quando a ONU aprovou resolução elevando status da Palestina, dando vitória diplomática aos palestinos e acesso a órgãos e tratados. Israel se opôs à resolução por considerar a Palestina uma entidade terrorista. Isso mesmo, para Israel o povo palestino é terrorista. Isso inclui a última declaração do ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, ao atacar a Faixa Gaza com a seguinte declaração; “estamos lutando contra animais e agindo de acordo”.
 
Portanto, estes setores midiáticos, para manter a narrativa de defesa irrestrita às ações israelenses, tiveram que manobrar o foco, renomear e ressignificar o grande inimigo. Pois não podem atribuir terrorismo ao um povo palestino, historicamente oprimido e oficialmente vítima das ações genocidas israelenses. Também ao suscitar o debate ‘Palestina’ significa catapultar aos holofotes às práticas cruéis sionistas de violações dos direitos humanos. Israel promove ações correlatas ao Nazismo e pratica políticas abusivas que se constituem crimes de apartheid e perseguição, conforme aponta a própria Organização das Nações Unidas.
 
De acordo com a ONU, desde o início do conflito, em 1948, mais de 250.000 palestinos foram mortos, enquanto cerca de 12.000 israelenses foram mortos. Por isso a Palestina não se consubstancia em debate para os noticiários, pois ao comparar as centenas de milhares de vítimas deste povo, ao longo da história, com o número consideravelmente inferior de israelenses, beiraria à psicopatia relativizar vítimas humanas em valores distintos.
 
Certo que uma operação de Estado (da Palestina), de autodefesa, conforme garantido aos povos em condição de ocupação e colonização no Direito Internacional, haja excessos, sejam questionáveis e considerados crimes de guerra pela ação contra civis indefesos e suscetíveis às mais variadas sanções. Mas para estes setores, acostumados ao desdém praticado por Israel aos reiterados pedidos e condenações da ONU, em que nada se fez e nada mudou, o que mais importa é não “perder a mão” no controle normativo da narrativa. Importa não gerar prejuízo a seus aliados ideológicos e interesses econômicos em nome de muitos crimes de guerra, do genocídio étnico e das mais variadas violações dos direitos humanos contra o povo oprimido palestino.