ECONOMIA

Banco Central culpa emprego e maiores salários por potencial inflação: "preocupação"

"Loucura" neoliberal, segundo o economista Paulo Kliass, foi usada para ameaçar a redução da taxa Selic em ata do Comitê de Política Monetária, o Copom.

Membros do Comitê de Política Monetária, o Copom, do Banco Central.Créditos: Divulgação / Banco Central
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Ata do Comitê de Política Monetária, o Copom, do Banco Central (BC), divulgada nesta terça-feira (26) culpa, de forma surreal, a geração de empregos e o aumento dos salários no governo Lula pelo aumento na estimativa da inflação e cita "preocupação" com o crescimento econômico no país.

"O Comitê se deteve em profundidade na discussão do mercado de trabalho e avalia que os aumentos salariais no período corrente podem estar ligados, em alguma medida, a pressões no mercado de trabalho", diz a ata, em seu ítem 11, para justificar uma redução no ritmo de cortes dos juros da Selic.

Na sexta-feira (22), o Copom reduziu a taxa básica de juros em 0,5 pontos, chegando a 10,75% ao ano. Mas, ameaçou alertando que "se a incerteza prospectiva permanecer elevada no futuro, um ritmo mais lento de distensão monetária pode revelar-se apropriado, para qualquer taxa terminal que se deseje atingir”.

A incerteza, segundo o Copom, é justamente sobre o crescimento do emprego e da renda do trabalhador, que impactaria na alta de preços. Diante da inflação alta, o remédio para os neoliberais é subir a taxa de juros - ou estancar a queda do índice.

"Em sua análise, o Comitê demonstrou maior preocupação com possíveis efeitos da ampliação de ganhos reais no período mais recente e da aceleração de crescimento observada nos dados referentes à massa salarial sobre a dinâmica prospectiva da inflação de serviços", diz a ata.

Loucura neoliberal

Em entrevista ao Fórum Café nesta quarta-feira (27), o economista Paulo Kliass afirmou que essa não é a primeira vez que essa "análise" ocorre e que a tese de frear o avanço do mercado de trabalho com alta de juros é uma das "loucuras" dos neoliberais.

"Isso é um elemento recorrente e permanente nas avaliações do pessoal do sistema financeiro, da ortodoxia, os neoliberais. Isso não é novo", diz.

O economista lembra da atuação de Joaquim Levy que foi indicado pelo presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, para assumir o Ministério da Fazenda no segundo governo de Dilma Rousseff (PT), em 2014.

"Ele colocou em prática exatamente o que está descrito na ata do Copom. Na visão desse pessoal existe o conceito de PIB Potencial, que é o quanto a economia pode crescer em determinado período. E se crescer mais que esse PIB potencial, que ninguém sabe como se calcula, você tem riscos. E o que pode acontecer? Você pode ter aumento de salários - como aconteceu nos dois mandatos de Lula e no primeiro de Dilma. Isso coloca mais recursos na economia e as pessoas vão consumir mais. E de acordo com essa tese conservadora, isso eleva a demanda agregada, que pressiona preços. Como não tem oferta, acontece a inflação. É uma coisa esquemática, a realidade está cansada de provar o oposto, mas os caras se vangloriam", afirma.

"Joaquim Levy dizia: temos que reduzir o valor real do rendimento médio dos trabalhadores, temos que impedir que o crescimento do PIB aumente. Resumo: 2015 foi uma das maiores recessões da história recente do Brasil. Porque foi uma intenção: eu tenho que provocar recessão, desemprego, redução de salário para impedir que a inflação volte. É uma loucura isso", emendou Kliass.

Assista a entrevista no Fórum Café.