Estaria o Facebook nos tornando pessoas mais egoístas?

Por dia, você está exposto a 1.500 publicações, mas apenas 100 passam pelo seu feed de notícias. Agradeça ao algoritmo de Mark Zuckerberg.

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Por dia, você está exposto a 1.500 publicações, mas apenas 100 passam pelo seu feed de notícias. Agradeça ao algoritmo de Mark Zuckerberg. Por Bruno Santana Uma coisa muito comum em tempos de rede social são debates acalorados. Algumas pessoas dizem propor uma discussão sadia, mas, na verdade, o que buscam é a autenticação de suas ideias. Eu mesmo me deparo muito com isso rolando a linha do tempo do Facebook, e tenho certeza que você que está lendo também vê o mesmo por aí. Seja enquanto discutem política ou a polarização entre esquerda e direita, mortadelas e coxinhas, com a ajuda da rede social, as pessoas vão se fechando em seu próprio mundo. Nos tornamos mais egoístas vestindo as nossas verdades. E a maior contribuição para isso é o famoso algoritmo, o grande filtro de postagens criado por Mark Zuckerberg e seu time de programadores do Vale do Silício. Só no Brasil, o Facebook tem mais de 100 milhões de usuários – praticamente metade da população – que gastam, em média, 20 minutos a cada acesso que faz para dar aquela espiadinha nas notificações. O que dá uma média de 1.500 publicações as quais esses usuários são expostos, mas, graças à “magia do filtro algorítmico”, apenas 100 delas realmente passam por seus feeds de notícias. Estes são dados oficiais. Mas como que essa seleção é feita? A verdade é que você não está sozinho quando entra no Facebook ou em qualquer lugar da internet. Os sites sempre estarão coletando seus dados de acesso e hackeando o seu comportamento e a sua interação com esses conteúdos. Dessa forma, o código traça um perfil de quem você é e o que você deve ver – ou não. Então como que eu vou ler notícias que podem ir contra o que eu penso? Caçando pela internet, porque não será pelo Facebook. E não sou eu quem digo isso. Em 2014, o próprio Zuckerberg, declarou que a intenção ao criar o algoritmo era a de tornar a rede social uma espécie de “jornal personalizado para cada pessoa’. É aí que as bolhas nascem. Para entrar em um desses casos de discussão, posso citar a mais recente censura que mostras e peças vem sofrendo por parte de grupos reacionários, em nome da “moral e os bons costumes da família brasileira” – o ministério da saúde adverte: essa frase contém ironia. Entre essas discussões, me deparei com o texto de um conhecido que estava todo revoltado por considerarem nudez como arte, enquanto não valorizam e reconhecem a fotografia dele como tal. Juro que não faltou vontade de responder a postagem, ainda mais quando vi que se tratava do tal fenômeno da bolha, onde pessoas foram provocadas a apoiar essa ideia e elas realmente começaram a aparecer, e algumas até compartilharam o texto. Ou seja, a postagem que questionava a validade daquela arte e poderia ter virado um debate sadio, na verdade, só queria aprovar sua rejeição e não discutir a profundidade do conceito de arte. Em tempo, não vou dizer que não é bom postar alguma coisa e receber uma chuva de likes ou comentários apoiando a sua ideia. Faz bem para a autoestima. Mas um pouco de autocrítica é sempre muito bom. A verdade é que as pessoas querem mostrar que o seu próprio discurso é melhor que o do outro. Ao invés de buscarem algum tipo de convergência, só querem a divergência. Dessa forma, a única coisa que conquistamos não é a “vitória do discurso” e sim a sociedade do bloqueio, onde cada um se resume a sua própria bolha de aprovação. Foto: Leon Neal/AFP/Getty Images