Dona de offshores, Globo defende Guedes e culpa "ignorância da sociedade sobre o assunto"

"Multimilionários não são necessariamente mais capazes - como prova o caso do próprio Guedes -, mas excluir do governo quem tem dinheiro em offshore reduziria demais os talentos disponíveis. Não faria sentido", diz o texto publicado no jornal da família Marinho

Paula com o avô, Roberto Marinho, e William Bonner no "propinoduto" do Jornal Nacional (Montagem)
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Em editorial na edição deste domingo (10), O Globo saiu em defesa de Paulo Guedes, sobre a offshore milionária que o ministro da Economia mantém nas Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe. O texto afirma que "a exploração política das offshores" é, em parte, "reflexo da ignorância da sociedade sobre o assunto".

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"A exploração política das offshores reveladas no caso Pandora Papers (a ponto de Guedes ser convocado a depor na Câmara) é reflexo, ao mesmo tempo, da ignorância da sociedade sobre o assunto, da imagem indigente da equipe econômica (desde a posse, ela pouco realizou em nome do programa que serviu para elegê-la) e da atitude opaca do ministro da Economia", diz o texto.

O editorial foi publicado três dias após o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), que denunciou as empresas de Guedes no Pandora Papers, divulgar que pessoas da família Marinho, dona da Globo, mantém offshores em paraísos fiscais.

Em 2017, os Panamá Papers já haviam revelado que o clã estavam listados como diretores da Global International Company Limited, offshore localizada em Bahamas controlada pelos Marinho desde 1983.

No editorial deste domingo, a Globo mostra dominar o assunto, afirmando que "a lei permite manter ativos no exterior desde que declarados à Receita e recolhidos os impostos devidos" e ensina Guedes como fazer.

"Para evitar conflitos de interesse, a praxe entre executivos e empresários que assumem cargos no governo é delegar a gestão de seus bens a terceiros, por meio de um mecanismo em que o dono não interfere nas decisões de investimento, conhecido como “blind trust”. É o que fizeram os antecessores de Guedes e Campos Neto, respectivamente, Henrique Meirelles e Ilan Goldfajn. Era o que o próprio Guedes dizia “estar fazendo” no final de 2018".

No texto, a Globo ainda cobra "explicações melhores" do ministro, lembrando que "na leitura generosa, a omissão é um erro político grave, pois abre margem a todo tipo de especulação".

"O episódio deveria servir ao menos para melhorar a legislação. Multimilionários não são necessariamente mais capazes — como prova o caso do próprio Guedes —, mas excluir do governo quem tem dinheiro em offshore reduziria demais os talentos disponíveis. Não faria sentido. Em vez da indignação estéril, os parlamentares deveriam tornar o “blind trust” obrigatório, no mínimo para o ministro da Economia e o presidente do Banco Central".

Globo na Pandora Papers

Documentos revelados pela Pandora Papers mostram que Paula Marinho, neta de Roberto Marinho (1904-2003), é listada como proprietária de duas empresas nas Ilhas Virgens Britânicas: Limozina Investing Limited e Ravello Holding Limited.

O objetivo da constituição das offshores era a compra de aeronaves nos Estados Unidos. Na sua ficha de abertura de 2011, a Limozina diz que comprará um helicóptero Grand Agusta. Não está claro se a compra foi efetuada.

Nessa empresa, Paula é sócia de Alexandre Chiappetta de Azevedo, seu ex-marido. Na época, seu nome constava como Paula Marinho de Azevedo. A empresa foi aberta em 31 de agosto de 2011.

A Ravello informou que também tem como objetivo a compra de uma aeronave. Não cita o modelo, mas menciona o valor: US$ 5 milhões.

Foi aberta em 15 de junho de 2016, após a separação, e foi identificada pelo nome de solteira da neta de Roberto Marinho: Paula Mesquita Marinho. A empresa foi registrada nas Bahamas.