EMIR SADER

Argentina e Brasil

A volta de Lula à Argentina, como novo presidente do Brasil, abriu uma nova era nas relações entre os dois países

Lula e o presidente da Argentina, Alberto Fernández.Créditos: Ricardo Stcukert
Escrito en OPINIÃO el

Agora, quando Brasil e Argentina voltam a atuar juntos, firmando diversos acordos e afirmando suas identidades políticas, projeta-se o verdadeiro peso dessa aliança.

A consciência da importância da ligação entre Brasil e Argentina por parte dos Estados Unidos já vinha dos tempos de Getúlio e Perón. Já naquela época havia estranhas operações para introduzir conflitos entre os dois líderes.

Na época da renegociação das dívidas externas dos países do continente, os EUA, mais o FMI, sempre tentaram impedir que Argentina, Brasil e México se articulassem, para atuarem de forma coordenada. As fotos de todos os credores de um lado em uma mesa do Clube de Paris e do outro, sozinhos, os representantes de cada país devedor impressionavam.

Durante a ditadura militar, o Brasil tornou-se o aliado privilegiado dos EUA no continente. Carlos Menem tentou se contrapor a esta situação, com a política de aproximação com os EUA, a que chamou de relações carnais.

Com o estabelecimento da estreita aliança entre os dois países, desde o abraço histórico de Nestor Kirchner e Lula, Brasil e Argentina passaram a desempenhar o papel de eixos dos processos de integração regional.

O continente passou por um período de integração, democracia e governos antineoliberais. Que teve momentos de ruptura e retorno, inclusive na Argentina e no Brasil.

A volta de Lula à Argentina, como novo presidente do Brasil, abriu uma nova era nas relações entre os dois países, como destacou Lula. Aberto pelos acordos estabelecidos entre os dois governos, com um documento político afirmando os termos desta nova era. Além de acordos sobre economia, ciência e tecnologia, relações internacionais e outros temas, como saúde.

Da mesma forma, o encontro, além de marcar o retorno do Brasil à CELAC, serviu para que o Brasil se desculpasse pela grosseria que havia sido dirigida ao presidente argentino, bem como para assumir como assunto atual os entendimentos para a assunção de uma moeda comum para as trocas comerciais entre os dois países. A região passaria a aderir a um processo internacional já iniciado de desdolarização das relações comerciais. Somente Peru e México falaram criticamente sobre o processo de criação de uma moeda comum. Cada um com seus motivos. Peru, por uma posição politicamente atrasada, em defesa das moedas nacionais. México,  por sua inserção, está condenado a um vínculo com o dólar.

O encontro dos 33 países da CELAC foi um grande acontecimento político, marcado, sobretudo, pelo retorno do Brasil. Em segundo lugar ou ao mesmo tempo, marcou também o retorno de Lula, que reassumiu o papel de maior líder político da América Latina.

Os EUA acusaram o sucesso da reunião da CELAC, emitindo um documento onde tentavam afirmar que a finada OEA é que representa todos os países do continente. No entanto, a CELAC já ocupou esse lugar, de forma irreversível.

A reafirmação do eixo da aliança Argentina-Brasil foi consolidada pelos acordos assinados entre os dois países, que projetam uma independência de longo prazo. Os dois países assumem, assim, a liderança dos processos de integração latino-americanos. Lula se referiu, além da CELAC, ao Mercosul e à Unasul, que constituem um sistema conjunto de integração latino-americana.

A nova era, iniciada pela reunião da CELAC, projeta agora um processo de integração latino-americana, não só política, mas também econômica, com debates sobre a construção de uma moeda comum. E a marca da aliança estratégica entre Argentina e Brasil.

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum