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POLÍTICA
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- O pressuposto da nossa análise é: não estamos em uma eleição comum.
- Houve um golpe em 2016 que não só tirou Dilma do governo e prendeu Lula como também desestruturou todo sistema político democrático-burguês. Lava-Jato + Globo produziram um protagonismo sem precedentes da extrema-direita. Os partidos de direita e centro-direita que patrocinaram o golpe se derreteram.
- Aqui é geopolítica, na veia. Estamos falando de pré-sal e de BRICs. A eleição é sobre o futuro da América Latina e também da correlação de forças mundial. Trata-se da primeira grande batalha pós-Brexit e pós-Trump. O primeiro grande case ao sul do mundo, a oportunidade de testar a eficácia das modernas técnicas de manipulação via redes sociais.
- Esqueçam Bolsonaro. Ele não tem nem equipe, nem estrutura, nem inteligência nem know-how para chegar onde chegou. Houve uma operação internacional de grande porte, provavelmente liderada pela Cambridge Analytica, monitorada e apoiada pelas agências norte-americanas.
- Imperialismo. Interesses das megacorporações internacionais. Ao invés de ocupar e bombardear o Brasil, é mais barato e eficaz derrubar governos de esquerda e eleger um ultraliberal e pró-EUA como Bolsonaro. O buraco é bem mais embaixo.
- A intervenção nas redes sociais vem sendo aprimoradas por essas empresas e institutos de extrema-direita norte-americanos desde 2013. Atingiram agora seu ponto máximo na campanha Bolsonaro 2018. O whatsapp (e também o Face) constituem universo paralelo de livre disseminação de fake news e sofisticada manipulação ideológica, ultra-focada (micro-target). São milhões investidos em uma campanha subterrânea altamente complexa.
- Isso posto, é preciso reconhecer que fizemos uma campanha “analógica”, sem entender que o inimigo – que não era o Bolsonaro, em si - estava em vibe “digital” e em modo de guerra. Ou a direção da campanha Haddad/Manu joga agora peso na produção de conteúdo e na intervenção massiva no whatsapp, ou não haverá muita chance para nós.
- Outra estratégia da campanha 17 foi investir nas “guerras culturais”. Importada dos EUA, trata-se de uma operação discursiva que desloca a agenda política dos temas econômico-sociais para os temas dos direitos civis e liberdades individuais. Ao invés de debater a crise econômica, se discute a pauta LGBT, feminista, anti-racista, cultural entre outras.
- Um parênteses. Gente progressista, muito cuidado: não estamos falando de comportamento, costumes ou pautas identitárias. Não caiam nessa armadilha. Falamos é de igualdade racial, igualdade entre mulheres e homens, liberdade de orientação sexual e identidade de gênero, liberdades individuais, direitos civis, direitos sexuais e reprodutivos, democracia, igualdade, respeito à diversidade, autonomia. São reivindicações de esquerda, socialistas, absolutamente vinculadas à superação das desigualdades e à luta de classes.
- O fato da campanha Bolsonaro manipular essa agenda não nos deve levar ao desespero ou oportunismo de negá-la para não perder votos conservadores. Ao mesmo tempo, é preciso focar sim nas questões materiais que afetam a maioria da classe trabalhadora, fugindo das armadilhas da campanha deles.
- Objetivamente: vamos responder. Não existe “kit gay”, e nem queremos fazer menino virar menina ou influenciar na sexualidade das crianças. O que defendemos são políticas para enfrentar a discriminação e a violência. Defendemos uma escola que acolha a todo mundo e respeite as pessoas!
- Não precisamos girar para um discurso direitista para dialogar com o povo. Nossa campanha deve impulsionar a interlocução e a ação do movimento dos “cristãos contra o fascismo”, que têm acúmulo para enfrentar a manipulação neofascista, na linguagem do evangelho. Isso deve ser uma das maiores prioridades! Produzir muito conteúdo focado na população cristã.
- Descontruir Bolsonaro. Passa por mostrar suas posições sobre direitos sociais. Bolsonaro é Temer. Bolsonaro é contra os direitos dos trabalhadores. Não tem propostas para gerar emprego e renda. É um cara dos patrões. Quer entregar nossas riquezas, quer acabar com o décimo-terceiro. Votou contra os direitos das empregadas domésticas. Defende a reforma trabalhista.
- Dramaticidade. Aumentar o tom. Tanto na denúncia da agenda anti-trabalhadores como na questão democrática. Haddad precisa ser mais incisivo, contundente, assertivo. Chega de bom mocismo. A campanha toda deve adotar uma postura compatível com a gravidade do momento.
- Convocar todo mundo para a guerra. Não se trata de uma campanha eleitoral. E não se trata de uma campanha apenas do PT-PCdoB-PSOL. Estamos diante de uma encruzilhada. A restrita democracia que temos pode acabar de vez. Uma possível eleição de Bolsonaro não é algo trivial. Vai desencadear um grau de violência antes nunca visto. E nos levará à destruição dos mínimos mecanismos democráticos que restaram. É uma aposta das classes dominantes no caos. “Vamos precisar de todo mundo”. Chamar as pessoas para a batalha! “Do it yourself”.
- Ampliar sem desfigurar. O tal “centro” e o etéreo “mercado” não vão nos apoiar. Mas, pressionam o tempo todo para desconstruir nosso programa e nos cooptar. Fujamos disso. Vamos intensificar a mobilização ao afirmar um programa democrático, trabalhista e comprometido com o desenvolvimento sustentável. Não vamos esconder Lula, mas vamos mostrar nossas propostas para o futuro. Somos o campo popular responsável que lidera e é capaz de enfrentar o fascismo e construir um governo democrático.
- Operação São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Aumentar a votação de Haddad e reverter a onda neofascista nesses três estados vai exigir muita concentração e dedicação da nossa campanha. E também muita sabedoria política para operar acordos e composições que minem o 17 e fortaleçam o 13, além de barrar a eleição de bolsonaristas para o governo. Márcio França, Eduardo Paes e Anastasia: inusitados diálogos.