Para entender melhor a guerra: pitacos para a campanha Haddad/Manu

Lava-Jato + Globo produziram um protagonismo sem precedentes da extrema-direita. Os partidos de direita e centro-direita que patrocinaram o golpe se derreteram

Haddad e Manuela na Rocinha. Foto: Reprodução
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  1. O pressuposto da nossa análise é: não estamos em uma eleição comum.
  2. Houve um golpe em 2016 que não só tirou Dilma do governo e prendeu Lula como também desestruturou todo sistema político democrático-burguês. Lava-Jato + Globo produziram um protagonismo sem precedentes da extrema-direita. Os partidos de direita e centro-direita que patrocinaram o golpe se derreteram.
  3. Aqui é geopolítica, na veia. Estamos falando de pré-sal e de BRICs. A eleição é sobre o futuro da América Latina e também da correlação de forças mundial. Trata-se da primeira grande batalha pós-Brexit e pós-Trump. O primeiro grande case ao sul do mundo, a oportunidade de testar a eficácia das modernas técnicas de manipulação via redes sociais.
  4. Esqueçam Bolsonaro. Ele não tem nem equipe, nem estrutura, nem inteligência nem know-how para chegar onde chegou. Houve uma operação internacional de grande porte, provavelmente liderada pela Cambridge Analytica, monitorada e apoiada pelas agências norte-americanas.
  5. Imperialismo. Interesses das megacorporações internacionais. Ao invés de ocupar e bombardear o Brasil, é mais barato e eficaz derrubar governos de esquerda e eleger um ultraliberal e pró-EUA como Bolsonaro. O buraco é bem mais embaixo.
  6. A intervenção nas redes sociais vem sendo aprimoradas por essas empresas e institutos de extrema-direita norte-americanos desde 2013. Atingiram agora seu ponto máximo na campanha Bolsonaro 2018. O whatsapp (e também o Face) constituem universo paralelo de livre disseminação de fake news e sofisticada manipulação ideológica, ultra-focada (micro-target). São milhões investidos em uma campanha subterrânea altamente complexa.
  7. Isso posto, é preciso reconhecer que fizemos uma campanha “analógica”, sem entender que o inimigo – que não era o Bolsonaro, em si - estava em vibe “digital” e em modo de guerra. Ou a direção da campanha Haddad/Manu joga agora peso na produção de conteúdo e na intervenção massiva no whatsapp, ou não haverá muita chance para nós.
  8. Outra estratégia da campanha 17 foi investir nas “guerras culturais”. Importada dos EUA, trata-se de uma operação discursiva que desloca a agenda política dos temas econômico-sociais para os temas dos direitos civis e liberdades individuais. Ao invés de debater a crise econômica, se discute a pauta LGBT, feminista, anti-racista, cultural entre outras.
  9. Um parênteses. Gente progressista, muito cuidado: não estamos falando de comportamento, costumes ou pautas identitárias. Não caiam nessa armadilha. Falamos é de igualdade racial, igualdade entre mulheres e homens, liberdade de orientação sexual e identidade de gênero, liberdades individuais, direitos civis, direitos sexuais e reprodutivos, democracia, igualdade, respeito à diversidade, autonomia. São reivindicações de esquerda, socialistas, absolutamente vinculadas à superação das desigualdades e à luta de classes.
  10. O fato da campanha Bolsonaro manipular essa agenda não nos deve levar ao desespero ou oportunismo de negá-la para não perder votos conservadores. Ao mesmo tempo, é preciso focar sim nas questões materiais que afetam a maioria da classe trabalhadora, fugindo das armadilhas da campanha deles.
  11. Objetivamente: vamos responder. Não existe “kit gay”, e nem queremos fazer menino virar menina ou influenciar na sexualidade das crianças. O que defendemos são políticas para enfrentar a discriminação e a violência. Defendemos uma escola que acolha a todo mundo e respeite as pessoas!
  12. Não precisamos girar para um discurso direitista para dialogar com o povo. Nossa campanha deve impulsionar a interlocução e a ação do movimento dos “cristãos contra o fascismo”, que têm acúmulo para enfrentar a manipulação neofascista, na linguagem do evangelho. Isso deve ser uma das maiores prioridades! Produzir muito conteúdo focado na população cristã.
  13. Descontruir Bolsonaro. Passa por mostrar suas posições sobre direitos sociais. Bolsonaro é Temer. Bolsonaro é contra os direitos dos trabalhadores. Não tem propostas para gerar emprego e renda. É um cara dos patrões. Quer entregar nossas riquezas, quer acabar com o décimo-terceiro. Votou contra os direitos das empregadas domésticas. Defende a reforma trabalhista.
  14. Dramaticidade. Aumentar o tom. Tanto na denúncia da agenda anti-trabalhadores como na questão democrática. Haddad precisa ser mais incisivo, contundente, assertivo. Chega de bom mocismo. A campanha toda deve adotar uma postura compatível com a gravidade do momento.
  15. Convocar todo mundo para a guerra. Não se trata de uma campanha eleitoral. E não se trata de uma campanha apenas do PT-PCdoB-PSOL. Estamos diante de uma encruzilhada. A restrita democracia que temos pode acabar de vez. Uma possível eleição de Bolsonaro não é algo trivial. Vai desencadear um grau de violência antes nunca visto. E nos levará à destruição dos mínimos mecanismos democráticos que restaram. É uma aposta das classes dominantes no caos. “Vamos precisar de todo mundo”. Chamar as pessoas para a batalha! “Do it yourself”.
  16. Ampliar sem desfigurar. O tal “centro” e o etéreo “mercado” não vão nos apoiar. Mas, pressionam o tempo todo para desconstruir nosso programa e nos cooptar. Fujamos disso. Vamos intensificar a mobilização ao afirmar um programa democrático, trabalhista e comprometido com o desenvolvimento sustentável. Não vamos esconder Lula, mas vamos mostrar nossas propostas para o futuro. Somos o campo popular responsável que lidera e é capaz de enfrentar o fascismo e construir um governo democrático.
  17. Operação São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Aumentar a votação de Haddad e reverter a onda neofascista nesses três estados vai exigir muita concentração e dedicação da nossa campanha. E também muita sabedoria política para operar acordos e composições que minem o 17 e fortaleçam o 13, além de barrar a eleição de bolsonaristas para o governo. Márcio França, Eduardo Paes e Anastasia: inusitados diálogos.