Record faz dobradinha com Bolsonaro em reportagem distorcida sobre "ideologia de gênero"

Matéria exibida no “Domingo Espetacular” afirma que na Europa “há uma imposição de identidade de gênero” e o principal problema da escola brasileira é o ensino sobre sexualidade às crianças, coisa que nem ocorre no país

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A Rede Record exibiu neste domingo (22), no programa Domingo Espetacular, uma reportagem intitulada: “Ideologia de Gênero nas escolas” para então produzir 15 minutos de mentiras, equívocos e LGBTfobia.

O primeiro erro da reportagem está no título: “Ideologia de gênero” não existe e trata-se de um termo que aparece pela primeira vez em uma encíclica do Vaticano que trazia uma série de livros que visavam “destruir a família tradicional”. Ou seja, é um termo adotado pelos setores conservadores.

Ainda no começo da matéria, a narradora afirma que “como próprio nome diz, trata-se de ideias, não é ciência”. Como o conteúdo da reportagem é baseado em valores morais e não em ciência, eles ignoraram o fato de que o conceito de gênero foi criado pelo sexólogo John Money, em 1955, para introduzir a distinção biológica entre os corpos.

Popularmente, o sistema criado por Money é chamado de binarismo de gênero (masculino e feminino). Mais uma vez, a matéria critica algo que apoia.

“Imposição da ideologia de gênero nas escolas da Europa”

O tom de pânico moral só piora conforma a reportagem avança. Sem qualquer referência a estudos, a reportagem aborda a inclusão das questões LGBT na escola na Suécia, Escócia, Inglaterra e EUA e afirma que isso foi responsável “pelo aumento de transtorno psíquico de crianças” e arremata: sexualidade só deve ser discutida em casa e com os pais.

Acontece que não acontece nem um, nem outro e as crianças LGBT não têm com quem conversar sobre suas sexualidades. Isso sim leva à depressão e ao suicídio.

Obscurantismo

A reportagem tem 15 minutos de duração e em momento algum entrevista alguém para fazer um contraponto. Apenas pais, mães e profissionais contrários ao ensino sobre as diferenças presentes nas sexualidades é que são entrevistados.

E como tudo sempre piora, próximo do fim, a reportagem associa o “desempenho ruim” das escolas brasileira como resultado da inclusão da discussão sobre as sexualidades. Desemprego, miséria e falta de investimento não citados com fatores responsáveis, a culpa é da “ideologia de gênero”.

Todavia, se o cenário de pânico moral construído pela Record fosse verdadeiro, as escolas brasileiras seriam medalha de ouro no desempenho, pois, hoje não há discussão sendo feita com as crianças e adolescente no sentido de mostrar para eles que o mundo é maior que a heterossexualidade e que o gênero é mais que dois. Pelo contrário: LGBT são humilhados cotidianamente no ambiente escolar.

Por fim, cabe ressaltar que “ideologia de gênero” não existe, o que há são estudos sobre os gêneros e as sexualidades com variadas vertentes e perspectivas.