MAIS UMA ALCUNHA

Brasileiros em Gaza: Ministro da Secom de Lula cria novo apelido para Bolsonaro

Ex-presidente tenta tirar vantagem da operação de resgate do grupo de brasileiros que está na Faixa de Gaza; governo reage

O ministro Paulo Pimenta e o ex-presidente Jair Bolsonaro.Créditos: Fotos: Palácio do Planalto/Agência Brasil
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O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Paulo Pimenta, inventou um novo apelido para Jair Bolsonaro. A atitude irônica vem como reação à tentativa do ex-presidente de tirar vantagem da operação de resgate que vem sendo deflagrada pelo governo Lula para retirar o grupo de brasileiros que segue retido na Faixa de Gaza em meio aos bombardeios de Israel.

A nova alcunha de Bolsonaro criada por Pimenta é "chupim", uma ave que bota ovos em ninhos de outras espécies e possui um comportamento "parasita". 

"BOLSONARO, O CHUPIM DA REPÚBLICA. Não enviou oxigênio para Manaus quando nosso povo estava sufocando. Não queria repatriar brasileiros na China em meio a uma pandemia porque custava caro. Abandonou brasileiros na Ucrânia e orientou que saíssem "por meios próprios". E agora quer dar um golpe no trabalho do Presidente Lula. Xô, chupim!", escreveu o ministro na legenda de um vídeo postado nas redes sociais. 

Confira: 

Bolsonaro tenta tirar vantagem 

Nesta quinta-feira (9), o governo de Israel informou ao governo brasileiro que o grupo de 34 brasileiros que está na Faixa de Gaza, finalmente, será autorizado a deixar o local, epicentro dos ataques e bombardeios das forças militares israelenses contra palestinos. Nesta sexta-feira (10), entretanto, a repatriação foi frustrada, pois o posto de controle na fronteira com o Egito estava fechado e os brasileiros não puderam sair da zona de guerra. Novas tentativas serão realizadas nos próximos dias. 

O grupo foi deixado de fora das 6 listas de estrangeiros autorizadas por Israel a saírem de Gaza pela fronteira com o Egito e, a cada informe de que os brasileiros não poderiam ser libertados, a situação foi ficando mais tensa e um princípio de crise diplomática se instaurou. 

O ápice do mal-estar se deu nesta quarta-feira (8). Trata-se da última data que o governo de Israel havia garantido que os brasileiros seriam autorizados a deixar a região. Após nova frustração e mais uma retenção do grupo, no final da tarde, o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, participou de uma reunião com parlamentares de extrema direita e o ex-presidente Jair Bolsonaro no Congresso Nacional - o que representa uma afronta ao governo brasileiro. 

Conforme era esperado, Bolsonaro e seus seguidores vêm usando a confirmação de Israel de que os brasileiros em Gaza serão libertados para associar ao ex-presidente a façanha. Como a saída do grupo do epicentro do conflito já era iminente, visto que essas pessoas já estavam há mais de um mês retidas, o ex-mandatário aproveitou o momento para criar a narrativa de que foi ele o responsável por salvar os brasileiros de uma tragédia. 

Não à toa, Bolsonaro já se apressou, logo após a informação de que os brasileiros deixarão Gaza na sexta-feira (10) vir à tona, e disse em entrevista que pediu apoio ao governo de Israel para a liberação do grupo. 

“Conversei com o assessor especial do Benjamin Netanyahu e ex-embaixador do Brasil e pedi um apoio para a liberação dos brasileiros. Yossi me relatou que não há nenhuma medida restritiva, não há nenhum empecilho por parte do governo de Israel. Israel concordou que os brasileiros têm que sair da região, seja por Israel ou pelo Egito”, disse à CNN Brasil. 

Acontece que a narrativa é falaciosa. Bolsonaro não teve nenhuma influência na decisão do governo de Israel em autorizar a saída do grupo da Faixa de Gaza. 

Articulação do governo Lula 

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um dos primeiros do mundo a realizar operações de repatriação em Israel logo após o ataque do grupo islâmico-palestino Hamas em 7 de outubro. Desde esta data, o Brasil resgatou 1.445 pessoas em territórios israelenses e na Cisjordânia em voos da Força Aérea Brasileira (FAB). 

Em 13 de outubro, Lula enviou para Cairo, a capital do Egito, o avião presidencial, que desde então está na cidade à espera de autorização para trazer os brasileiros retidos na Faixa de Gaza. O longo deste período, o presidente, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e diplomatas do Brasil vêm mantendo diálogo constante com o governo de Israel na tentativa de retirar o grupo de brasileiros da zona de guerra. 

Foi o governo brasileiro quem conseguiu alugar casas para o grupo de brasileiros próximo a fronteira com o Egito e quem vem garantindo a entrega de suprimentos a essas pessoas. Lula, inclusive, chegou a conversar com os brasileiros retidos em Gaza e seus familiares via videoconferência. 

Em nota divulgada nesta quinta-feira (9), a Embaixada de Israel no Brasil informou que Jair Bolsonaro sequer foi convidado para a reunião do embaixador - indicando, portanto, que o ex-presidente não teve influência no processo de retirar os brasileiros de Gaza. O comunicado diz, ainda, que "o governo israelense jamais criou obstáculos ou preteriu a saída dos brasileiros de Gaza.

"Brasil e Israel têm laços fortes e fraternos desde a fundação do Estado de Israel e nosso esforço é para fortalecer cada vez mais essa amizade", afirma a representação diplomática. 

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, por sua vez, informou em nota que a inclusão dos brasileiros na nova lista de autorizados a deixarem Gaza acontece depois de todo um trabalho de diálogo com o governo de Israel e que a decisão vem após o quarto telefonema, nesta quinta-feira (9), entre o ministro Mauro Vieira e o ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen. 

Segundo a pasta, o órgão israelense informou que os brasileiros só não foram libertados na última quarta-feira (8), conforme havia sido combinado, por "fechamentos inesperados na fronteira".