CRIME ORGANIZADO

Ronnie Lessa executaria outra figura conhecida no Rio à época do crime de Marielle

Matador de aluguel revelou em sua delação premiada que alvo famoso escapou por um triz. Ele teria sido contratado pelo contraventor Bernardo Bello para o “serviço”

O assassino Ronnie Lessa.Créditos: Justiça Federal
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O assassino de aluguel Ronnie Lessa, que executou a vereadora Marielle Franco a mando, segundo a PF, dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão e do delegado Rivaldo Barbosa, foi contratado para outro “serviço” na mesma época, cuja vítima era também uma figura muito conhecida no Rio de Janeiro.

De acordo com seus depoimentos no acordo de delação premiada firmado no caso Marielle, Lessa deveria ter matado, entre o fim de 2017 e o começo de 2018, pelo valor de R$ 50 mil, a então presidenta da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, Regina Celi. Ela esteve por mais de 10 anos à frente da agremiação carnavalesca e segue sendo muito famosa nos meios televisivos por suas constantes aparições no período da principal festa popular do Brasil.

O relatório final da Polícia Federal mostrou que Lessa monitorou nos dias 1º, 2, 7 e 14 de fevereiro de 2018 não só Marielle, mas também Regina, inclusive utilizando o mesmo Chevrolet Cobalt empregado nos homicídios da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes.

Em suas palavras à PF, o pistoleiro revelou que o contratante da morte da então presidente do Salgueiro foi o contraventor Bernardo Bello, à época um dos chefões do jogo do bicho e dos caça-níqueis no Rio. Em 2018, Regina Celi tentava um polêmico terceiro mandato à frente da escola de samba, que ela até conseguiu, mas que lhe fora retirado pela Justiça por estar em desacordo com o estatuto da entidade.

Bello estaria o lado do ex-presidente do Salgueiro Luis Augusto Duran, o Fu, que é também ex-marido de Regina Celi, e para quem perdeu uma eleição na escola de samba. A participação de Fu no planejamento não é mencionada em qualquer parte da investigação e a PF acredita que Bello queria dar fim à então presidente da vermelho e branco por ela ser do grupo político de Shanna Garcia, filha do ex-chefe do jogo do bicho Maninho, com quem ele manteve por anos uma relação de disputa e rivalidade constante, inclusive por ter sido casado com a irmã dela, Tamara Garcia.

“Posto isso, imperativo ressaltar que a acirrada disputa pelo comando da agremiação, portanto, constituía mais um importante capítulo do conflito travado pelos herdeiros de Maninho, sendo certo que Regina Celi representava os interesses de Shanna, enquanto André Vaz os de Bernardo Bello. Todo esse enredo era notório a todos que acompanhavam a agremiação e a história da família Garcia, conforme retratou a própria mídia em 2022, na ocasião da captura de Bernardo Bello”, destaca a PF no relatório.

Por fim, Lessa contou aos agentes federais que o crime só não ocorreu por “razões de logística”, possivelmente pelo fato de Regina Celi andar com escolta ou evitar seguir rotinas que facilitassem uma ação do tipo.