ETERNA

Um ano sem Gal Costa: a musa da música brasileira que transformou o país

Artista morreu aos 77 anos em 2022, mas deixou uma grande voz, "essa voz tamanha" ecoando pelo país; "Parece que foi ontem, parace que não aconteceu", diz Caetano

Gal Costa morreu aos 77 anos em 2022.Créditos: Divulgação/Facebook Pessoal c
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Há um ano, no dia 9 de novembro de 2022, o Brasil perdia uma de suas maiores cantoras: Gal Costa. Falecida aos 77 anos, por causas naturais, em sua casa em São Paulo, a notícia da morte de Gal pegou todos de surpresa, uma vez que ela não estava doente e não havia nenhum sinal de que algo pudesse acontecer, como por exemplo com Rita Lee.

Gal ainda vive, mesmo após a sua morte. Inspiração de diversas produções artísticas, como o filme “Meu nome é Gal”, da diretora Dandara Ferreira e Lô Politi e a futura produção de um livro-biografia com detalhes e aspectos de sua vida, mostra como ‘essa voz tamanha’ é inesquecível.

Uma certa vez, o poeta e escritor Antônio Risério caracterizou o significado do nome Gal. “Quando em algum lugar escuto alguém falar de Gal Costa, ou simplesmente dizer seu nome, duas observações costumam me ocorrer quase de imediato. A primeira é que, para lembrar o verso do poeta chileno Vicente Huidobro, ela parece ter feito um pacto secreto na garganta com algum rouxinol-uirapuru. Daí que eu leia o seu nome até na palavra inglesa para rouxinol: nightingale, nightingal”.

Gal seria como sinônimo de qualidade de vida. “A segunda observação diz respeito justamente a uma consequência desse pacto secreto: a qualidade – meraviglia – do timbre de sua voz. E é por isso que sempre digo que o canto de Gal é ecológico, num sentido muito preciso. Vale dizer: quando Gal canta, quando sua voz ondula na pele do ar, o ambiente à sua volta, qualquer que seja, se transfigura. Gal, o canto de Gal, é qualidade de vida”, destaca.

“É como se tivesse sido ontem, é como se não tivesse sido”

No dia em que se completa um ano da morte da artista, o cantor e compositor Caetano Veloso prestou uma homenagem à amiga através do X, antigo Twitter. Em uma série de tweets, Caetano lembrou da importância de Gal para a música brasileira e para a sua vida. "Hoje faz um ano que Gal morreu. Nem acredito. É como se tivesse sido ontem, é como se não tivesse sido.”

Para Caetano, ainda é difícil acreditar na morte da amiga. “Emissão de voz que já era música antes de ela entrar um tanto nalguma música. Não dá para medir, não dá para entender. No filme que Dandara e Lô fizeram ri e chorei lembrando os começos. Agora, ela ter ido embora não metabolizo. Já faz um ano que o mundo não tem Gal? Impossível aceitar".

Gal Costa

Créditos: Julia Rodrigues/ Divulgação

Soteropolitana de 1945, nascida e criada nas ruas históricas do bairro da Graça, Maria da Graça Costa Penna Burgos, carinhosamente conhecida como Gal, já deslumbrava o mundo com sua voz antes mesmo de ser a Gal. O início de sua vocação foi marcado pelo encontro de artistas que viriam a se tornar talentos no cenário musical brasileiro, assim como ela. A estreia nos palcos ocorreu ao lado de ícones como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Tom Zé, no espetáculo "Nós, Por Exemplo...", realizado em 1964. 

Determinada a seguir seu caminho, ela se mudou para o Rio de Janeiro pouco tempo depois. Em 1966, ela teve a honra de participar do primeiro Festival Internacional da Canção, um evento que a colocou sob os holofotes nacionais. No ano seguinte, uma parceria com Caetano Veloso resultou no lançamento do primeiro LP de Gal, mas foi em 1968 que o reconhecimento definitivo chegou com o lançamento do álbum histórico "Tropicália ou Panis et Circencis", um trabalho revolucionário que capturou a efervescência da Tropicália e um símbolo de resistência à ditadura militar no Brasil.

Ainda nessa década, Gal Costa deu início à sua carreira solo com o lançamento de seu primeiro álbum autointitulado, "Gal Costa". Neste trabalho inaugural, despontou com hits icônicos, como "Baby," "Divino Maravilhoso," "Não Identificado," e "Que Pena", esta última uma composição de Jorge Ben Jor que se destacou por sua famosa frase: "Ele já não gosta mais de mim, mas eu gosto dele mesmo assim". A artista baiana possui muitas outras músicas que são consideradas verdadeiras obras-primas. 

Um exemplo notável é "A Rã", lançado em 1974, que encantou o público com sua singularidade. Além disso, a reinterpretação de "Modinha para Gabriela", de Dorival Caymmi, usada como tema de abertura da novela "Gabriela" da TV Globo. Entretanto, o primeiro Disco de Ouro veio com o álbum "Água Viva" em 1978. O álbum se tornou famoso pelas emocionantes canções "Folhetim" e "Paula e Bebeto", que conquistaram o coração do público. Pouco depois, Gal emprestou sua voz à música "Força Estranha”, considerada uma das principais composições de Roberto Carlos.

Na transição para a década de 80, Gal passou por uma transformação em seu estilo musical, começando a abraçar o lado pop e adotando sons mais comerciais. Canções como "Aquarela do Brasil", "Canta Brasil”, e "Festa do Interior" se destacaram nessa fase. Ela também reinterpretou a música "Azul”, composta por Djavan, e lançou uma série de sucessos, como "Eternamente", "Chuva de Prata", "Nada Mais", "Canção da América”, "Sorte", e até mesmo "Um Dia de Domingo", uma colaboração com Tim Maia.

Já nos anos 90, Gal teve importantes reconhecimentos, a começar pelo Hall of Fame do Carnegie Hall, em Nova York. Ela foi a única cantora brasileira a ser homenageada em uma renomada sala de espetáculos. Além disso, continuou com uma série de turnês e lançamentos de álbuns. Embora seus grandes sucessos tenham mantido seu protagonismo, a artista também introduziu novas músicas, incluindo composições de  artistas contemporâneos, como Céu, Criolo, Artur Nogueira e Malu Magalhães, evidenciando seu compromisso contínuo com o desenvolvimento da música, como ilustrado no álbum "Estratosférica" gravado em 2015.