MÚSICA

Gal Costa: o primeiro aniversário sem nossa cantora mais feroz e delicada

Após muita tristeza e notícias conturbadas, um sopro de alegria: finalmente vai estrear a cinebiografia “Meu nome é Gal”, com Sophie Charlotte no papel da cantora

Gal Costa fotografada por Thereza Eugênia.Créditos: Thereza Eugênia/Divukgação
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Gal Costa teria completado 78 anos de idade nesta terça-feira (26). Este é o primeiro aniversário que passamos sem ela. A cantora faleceu em novembro do ano passado, em um caso envolto em diversos mistérios, que vão desde a causa da morte em si, até sua relação com a viúva, Wilma Petrillo, acusada por amigos e familiares da cantora de assédio moral, golpes financeiros e ameaças, que a teriam levado à falência.

A causa da morte foi divulgada apenas em julho deste ano. Gal morreu em decorrência de um infarto agudo no miocárdio, de acordo com a certidão de óbito. O documento descreve ainda como causa da morte uma neoplasia maligna [câncer] de cabeça e pescoço.

Apesar de tudo, pelo menos uma boa novidade envolve o nome dessa que foi uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos. Estreia no próximo dia 19 de outubro, com direção de Dandara Ferreira e Lô Politi, que também assina o roteiro, e a atriz Sophie Charlotte no papel da cantora, a cinebiografia “Meu nome é Gal”.

O elenco traz ainda Rodrigo Lelis como Caetano Veloso, Dan Ferreira como Gilberto Gil, Camila Márdila como Dedé Gadelha, George Sauma como Waly Salomão, Luis Lobianco como Guilherme Araújo, Fábio Assunção como um diretor de TV e Dandara Ferreira como Maria Bethânia.

O longa conta os primeiros passos da cantora Maria da Graça Costa Penna Burgos, conhecida até então como Gracinha. Ela acabou sendo batizada pelo empresário Eduardo Araújo como Gal Costa e virou, em um primeiro momento, a musa do movimento tropicalista. Depois disso, como todos sabem, se transformou em uma das grandes divas da nossa música.

A fase tropicalista, no entanto, que é a que se concentra o filme, traz um frescor e uma potência inigualáveis. Gal fez vários outros álbuns impecáveis ao longo da sua carreira, até mesmo com produções internacionais. Além disso, passou a cantar cada vez melhor. Mas nada, nunca mais, superou aquilo.

O sabor artesanal de seus primeiros álbuns, o jeitão rebelde – uma espécie de fusão da Janis Joplin com acentos de João Gilberto – parecia sintetizar como ninguém o que era e significava a barafunda sonora proposta por seus companheiros de movimento. Nada nem ninguém conseguiu resumir como Gal a inspiração antropofágica proposta ironicamente por Oswald de Andrade na deglutição do Bispo Sardinha por nossos índios.

Gal era mesmo Fa-Tal. Com seus cabelos assanhados, a rosa, o vestido curto, as pernas entreabertas com o violão sobre elas, seu canto ora gritado e ora ultrapassando todos os limites da delicadeza, traduziam sobremaneira um tempo e espaço.

Gal, assim como o país atolado nos escombros da ditadura, amadureceu, cresceu e se profissionalizou como poucas. Gravou álbuns lindos, em diversos gêneros e para todos os gostos. Todas as múltiplas fases da cantora ficaram guardadas para sempre no consciente coletivo dos brasileiros.

Fica, no entanto, ao menos para este que vos escreve, uma predileção particular pela Gal que ainda era quase Gracinha, que conseguiu nos dar naquele começo de carreira tanta beleza, ferocidade e ternura. E tudo ao mesmo tempo.